A palavra é uma força descomunal que o homem pouco
consegue domar para dominar a arte e feliz daqueles que nisto conseguem alcançar.
O homem se embrenha em muitas aventuras no intuito da
destreza física e aventureira na intenção de vencer a força da natureza. Lançam-se
de baixo para o alto e do alto para baixo para vibrarem com sua conquista... Tolos...
Essa força se domina com a inteligência e ferramentas corretas e estão disponíveis
para qualquer um que assim desejar, entretanto, são poucos, bem poucos os que
se aventuram em dominar aquela força bruta que brota primeiro em seu espírito
para depois ganhar força na materialidade da língua e do sopro. Muitas palavras,
pois, não passam disto, quero dizer, de um sopro, de um vento quente que
ninguém sabe donde e como veio e nem sabe para aonde e como vai, mas sente sua
fúria se abater sobre aquele outro a quem é direcionada e vê-lo dobrar como a relva
e rodopiar em torno de si num eterno tormento apesar de na verdade ter durado
apenas poucos segundos.
Homem algum se arrisca em querer sobrepujar a força de
sua palavra por saber que entrará numa batalha perdida, pois sua força é fraca
para ao menos brandir a seiva venenosa desta. Seu querer é por demais fraco ante
o poder desta outra.
Não por instrumentos e nem por ferramentas que a palavra
é dominada, senão pela força de um espírito firme e elevado. Os espíritos
fracos são a verdadeira fonte borbulhante desta força desoladora, porque não são pessoas,
mas sim zumbis. Estão mortos em seu ser, mas insistem em andar e agir como
vivos por causa do regato da vida que ainda habita neles. Suas palavras têm poder de inutilizar vidas para sempre, são traiçoeiras como o bote da serpente destilando veneno, hora em lisonjas malígnas, hora em críticas asfixiante.
Todos os poucos que pelos séculos afora dominaram a força
da palavra conquistaram o mundo e foram chamados de santos, de líderes, de
sábios ou mesmo de demônios. Ninguém dá sua vida em troca de um tolo, pois este é apenas como os
outros tantos bilhões que existem mundo afora, em contrapartida, todos darão
sua vida por aquele que os cativou... Muitas vezes cativados até mesmo sem palavras,
já que esta em muitas ocasiões pode ser a raiz de diversos mal entendidos mesmo
estando bem intencionada e clara. Esta é a nuança da arte da palavra, saber a
hora de falar e saber a hora de calar, saber a hora de ouvir... Um olhar também
consegue dizer o que para as palavras ou para o silêncio seria inefável. Isto se dá
quando os corações entram em consonância por oscilarem no mesmo ritmo compassado
apesar de estarem descompassados. Tudo isso são palavras, as ditas e as não
ditas, os olhares e as expressões, a suavidade ou a energia. Em todos estes últimos, estão depositados a profundeza da alma que dispensa a palavra audível.
Falar da boca para fora todos falam, até mesmo os papagaios falam. É tal como diz a música 'Índios', falam demais por não terem nada a dizer, e após o dito, o máximo que conseguem é tudo continuar como não dito. Porém, para os experientes na vida, eles tudo dizem com o coração, contudo, para os sábios, eles não se contentam com a fagulha do coração, eles se expressam com a profundidade do espírito. Assim, muitas palavras e intenções depositadas nelas, devem ser evitadas porque corrompem o coração e o espírito.
São nas palavras que o espírito se delata. Assim como
ferro se aguça com o ferro e diamante apenas com o diamante. Só se percebe quem é
ferro, se aquele for diamante, mas o ferro não enxerga o diamante por este
também abrasá-lo, e não percebe a primeira vista a profundidade de sua força e o quão brilhante permanece
e intacto apesar de ter sido abrasivo e abrasado. É ferro, apenas ferro que
parece brilhoso e forte, mas o tempo o enferruja e o dobra e tem que novamente ser polido,
e assim vai perdendo sua rigidez, porque a palavra sábia e salutar o cansa por
este ser secularizado. Já o diamante percebe o ferro bem como outro diamante e este
é quem mantém a todos polidos. São estes que mantém o curso da vida. São estes os
iluminados que Deus providencia de tempos em tempos.
Pode a palavra ser vivificante ou pode a palavra traspassar a alma. Olhem o espírito do homem pela sua palavra. A palavra é espírito e o espírito se vê pela palavra, contudo, situação esta paradoxial e talvez inócua como tem sido com o Verbo Divino, pois, somos responsáveis pelo que dissermos, mas jamais pelo que mentes tacanhas possam querer entender.