domingo, 19 de maio de 2013

Consciência


Quando dizemos que a velocidade de um automóvel é de 80km/h, não precisamos gastar energia para termos um parâmetro quantitativo do que isso representa em termos de rapidez de deslocamento, porque nela existe uma escala. O mesmo poderíamos dizer das horas, do peso, da temperatura e diversas outras grandezas. Assim, a estas, podemos dizer que são escalares já que possuem uma sequência de níveis ou graus.


No caso da consciência, ela não é mensurável por uma escala, pois, trata-se de um sistema vetorial porque suas características tais como valor, medida, direção e sentido, estão todos em algum ponto de algum outro plano que tangencia este nosso plano tocando nosso ser.

O que eu quero dizer é que nossa mente é algo ainda desconhecido da ciência. O cérebro parece ser apenas o órgão de manifestação desse ser, mas não é propriamente ele. Nós não somos isto que vemos no espelho. Como disse o pequeno príncipe ao piloto perdido no deserto, 'as coisas importantes são invisíveis aos olhos'.

Permita-me contar uma história que aconteceu esses dias: Quando estou em casa, frequentemente ataco a gaveta de legumes da geladeira para comer um tomate ou uma cenoura. Porém, aconteceu certo dia de eu abrir a gaveta e quando observei, eis um belo tomate e uma cenoura fresquinha. Fiquei numa duvida tremenda por qual deles eu deveria optar, então, sem intenção perceptível silenciei naturalmente minha mente, nada se passou por ela naquele instante de tempo. Nenhum pensamento lógico se manifestou e também nenhuma emoção declarou algo. Acho que naquele momento tive um antegosto daquilo que os monges budistas chamam de esvaziar a mente. Neste estado nirvanês, de repente o tomate saltou e gritou para eu pegá-lo e ainda me disse como eu deveria comê-lo... Pode isso? Parece loucura para você? Bem, eu também achava que o Cazuza era louco por revelar seus segredos para o liquidificador de sua mãe, contudo, levando em consideração o que este evento me revelou, concluí que ele não estava doido e que eu também poderia ficar tranquilo, pois, de mesma forma, eu não estava ficando doido por 'falar' com legumes*.

Deixe-me explicar este conceito que vocês talvez não tenham compreendido nesta história aparentemente sem graça. Pois bem, a sociedade de hoje possui seu bezerro de ouro para adorar de mesma forma que aqueles filisteus da antiguidade possuíam um, e este hodierno bezerro, eu denomino de racionalidade. Todos queremos ser demasiadamente racionais e supervalorizamos isto, entretanto, eu vejo um problema de consideráveis proporções e consequências nisto, pois a mente racional e tecnológica está limitada por seus conhecimentos, isto é, o raciocínio lógico pode falhar se faltar informações, e digo ainda mais, elas devem ser claras. Pior será se nossas informações estiverem erradas, pois, seremos arremetidos para uma outra direção vetorial qualquer.

Percebam que mesmo absorvendo todo o conhecimento acumulado pela humanidade, ainda assim nossa racionalidade poderia falhar, porque ela ainda estaria limitada por um teto. Contudo, quando na matemática os cálculos e equações falham, o recurso que resta são as probabilidades e assim, resolvem-se muitos problemas atuais aonde o aparente caos domina. Seguindo este princípio, o caos passa a ser apenas uma desordem com determinada previsibilidade e desta forma, o ganho é favorável àquele que detém esta técnica.

Assim, esta sociedade vai de mal a pior como bem observamos, porque querem ser tão racionais que suprimem a voz de sua consciência, aquela mesma que me fez o tomate falar, a propósito, ela é bem tímida. Ela costuma falar baixinho e calmo lá de seu cantinho. Por outro lado, o racional e o emocional são demasiadamente barulhentos e até mesmo meio que desorganizados e muito agitados. Coitada da consciência, quem lhe dará ouvidos com tantos ruídos na mente?

Muitos até pensam que escutam a voz de sua consciência, mas a verdade neste caso pode ser amarga, pois, não percebem que sua mente lógica ou emocional está disfarçadamente se impondo mais uma vez. Ela neste caso, pode estar apenas mandando recados de sua mãe, de seu pai ou de algum outro dissimulado que está fazendo a vez da consciência para impor sua vontade contra aquilo que realmente deve ser feito.

Com muita naturalidade, a sociedade moderna abandonou de vez a voz da consciência que trouxe das origens a humanidade até aqui, para se aventurarem por um caminho perigoso, pois o racional e o emocional são calculistas, egoístas e limitados. Estes apenas visam sua necessidade momentânea. São como aquele cão que largamos em casa e colocamos comida para os três dias que iremos ficar fora e entretanto, ele come tudo num só dia até explodir, sem pensar no amanhã e no depois.

Assim, na contramão da atual modernidade, eu quando tenho dúvidas sobre algo, passei  a perguntar para o tomate, para a cenoura ou mesmo ao liquidificador o que devo fazer e eles sempre me respondem. É claro que as vezes a voz de minha mãe ou de meu pai se manifestam, mas quando identifico essa falha de sintonia com aquele plano superior que tangencia minha alma, tento suprimi-los, até porque, não posso ser como aquele cego que pede para o outro lhe guiar. Não pode um cão querer guiar outro cão, pois são todos cães com os mesmos problemas e alcance de visão, assim, a única conexão com o plano superior paralelo ao nosso, está através de nossa tímida consciência, sim, esta que é desprezada pela sua aparência de fragilidade, contudo, esconde um poder descomunal. Quem quiser perspicácia e sabedoria, que a ouça!

* Tomate é fruta

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