sábado, 2 de julho de 2016

Medo Sim, Covardia Não!

Para estabelecer a linha demarcatória entre o medo e a covardia que nos envolvem e que nos últimos tempos tem se multiplicado absurdamente em relação a poucas décadas atrás, é tanto necessário para o contexto atual, compreendermos também uma terceira e importante entidade também inserida neste ambiente, a saber, a coragem.

Pois bem, não devemos encarar o medo como algo ruim e nem a coragem como algo sempre bom, pois, por mais incrível que possa parecer, enquanto o medo é sempre bom, a coragem pode mudar de lado facilmente, pois é suscetível à situação. Para você compreender essa lógica as avessas, a despeito do juízo que possui deles no momento, perceba que até mesmo o negativo também é bom e o positivo pode ser ruim, sim, o negativo é em algumas situações muito desejável e o positivo altamente indesejável. Por exemplo: Todos desejamos um resultado positivo em um teste admissional de trabalho, contudo, não queremos este mesmo resultado nos testes sanguíneos quando vamos doar. Compreende agora as duas faces inseparáveis da mesma moeda?

É notório que o medo tem aumentado muito nos últimos tempos e não é sem razão, pois o descaminho tem assolado a humanidade pela criminalidade crescente, pela corrupção praticada abertamente como se o comum fosse normal e pelo comercio predador. A respeito deste ultimo, perceba a sutileza da imputação do medo da qual se alimenta a industria do entretenimento televisivo, a saber, das fobias impostas em seus espectadores pelas engenhosas fábulas da dominação da máfia, dos traficantes, das guerras, das pandemias, dos desastres e até mesmo das tolices de invasões alienígenas, dentre outras situações emocionais apelativas. Assim, uma mentira dita uma vez, não passará de uma mentira, mas uma mentira dita vez após vez, acaba transpassando os filtros da razão e se alojando na mente profunda e destruindo parcialmente os fundamentos do equilíbrio cognitivo, e esta forte influência da ficção corrompe o discernimento do indivíduo, haja visto que nos últimos tempos aumentaram as profetadas do fim do mundo, dos pesquisadores de OVNIs, dos especialistas em conspirações e caçadores de criaturas misteriosas, sendo todos esses assuntos sempre envoltos de mistérios, cortinas de fumaça e temores desproporcionais a um absurdo artificioso travestido de verdade.

Vivemos em um mundo em que o medo constante é parte de nossa vivência e por muitos procurado. Ele nos acompanha como um fantasma obsessor, e para muitos desarrazoados o é realmente... 

Pessoas desonestas que visam apenas lucros, usam de meios desonestos de manobra da razão do indivíduo, para os fazerem ter medo de não conseguirem uma namorada se não usarem aquele creme dental específico ou aquele desodorante mágico, de ficarem doentes se não tomarem aquelas ditas vitaminas milagrosas, de serem excluído da sociedade se não andarem com as roupas que estão na moda, de não serem admirados se não tiverem o carro do para-choque verde, pois o carro do para-choque vermelho que possui já está ultrapassado. Sempre penetram nas mentes com o aditivo da novidadee por aí vai barranco abaixo a sociedade sendo empurrada. As pessoas perderam sua autonomia e assim, como manadas de bois são conduzidas, sempre atraídas pela qualidade do novo tal como gatos curiosos, e pior, se colocam nesta posição por disposição própria, já que se orientam pelos gostos da maioria, pois não possuem expressividade própria. Preferem repetir as besteiras que escutam pelo medo de dizerem as suas próprias. 

Assim, percebemos que o medo, apesar da conotação negativa do contexto mencionado, ele nos move à uma ação objetiva para superar aquela barreira que está nos prejudicando ao menos na aparência, e isso é bom.

Já com uma pessoa covarde, isso não acontece, porque a covardia paralisa o indivíduo impedindo sua ação por este estar contaminado com a dúvida. Não entrarei aqui no mérito da questão, se a eventualidade poderia ou não ser um monstro de sete cabeças. Assim, a fuga pode ser tanto uma ação paralisante da razão pela covardia quanto uma demonstração sensata de coragem, tudo depende da dimensão do problema. Perceba também um ponto relevante quanto a covardia, é que ela possui sua outra face tenebrosa, a da ação quando se aproveita da ocasião ou da ignorância e fraqueza dos outros para agir em causa própria. Esta situação aparenta força e esperteza, mas é um mal que anda arruinando estes tempos. Não pode haver coragem, vitória e nem mérito algum diante da indefesa alheia. Perceba que os covardes apenas esmagam aquilo que é indefeso.

Portanto, coragem é a qualidade de agir apesar do medo que a intimidação do risco impõe. Porém, para que haja resultados satisfatórios, deve-se compreender a seguinte moderação: Coragem não significa apenas a ausência do medo e menos ainda o destemor inocente dos heróis hollywoodianos, mas sim uma manifestação prudente diante do desconhecido para se obter um determinado resultado. 

Para entender essa asserção, observe os bombeiros. Eles jamais se lançam nas chamas, nos rios, nos despenhadeiros ou seja lá qual for a situação de risco, de peito aberto à situação, existe antes de tudo uma análise do risco a que estarão expostos e quando verificada a possibilidade de salvamento, eles se protegem com os equipamentos necessários para então executarem o resgate, caso contrário, também serão vítimas daquilo que estão tentando subjugar, aumentado mais ainda o problema. Deste exemplo, distinga a sutileza entre ter coragem que é bom, de ser corajoso que é ruim. Quando bombeiros ou policiais perdem a vida, em sua maioria, não foi pelo destemor, mas por terem calculado mal uma situação de risco. Atos heroicos de coragem acontecem por dois motivos: Estando no extremo será pela ignorância seca ou pelo imprevisto após uma rápida pesagem do mal menor, não mais que isso. 

Percebemos portanto, que a pessoa que tem coragem, vai mais além das covardes ou das desanimadas, porque enfrenta os desafios e as barreiras que a vida constantemente impõe com confiança por estar equipada e preparada para o embate, apesar dos pés quererem vacilar. Não é por menos que Platão acrescentou os temperos da razão e da dor à coragem. Assim, definimos a coragem como um agregado de princípios que fazem uso da razão a despeito da dor provocada momentaneamente, pois visa sua transposição para um bem maior.

Ter coragem é ser coerente com os princípios da vida porque visa a sobrevivência, sempre buscando uma qualidade de vida melhor ou a proteção de seu espaço físico ou moral diante da tentativa de invasão ou usurpação. 

Se dê ao luxo de permitir que o medo o interrompa, pois ele é a alma da sua sobrevivência. Ele é o alarme que soa diante do perigo, e se ele estiver anulado, o risco de vida permeia o espaço. Discirna o que é medo e o que é covardia, pois, o medo o faz ficar alerta e traça estratégias enquanto a coragem trabalha, já a covardia paralisa e incapacita a pessoa. 

Se o medo estiver ausente, a coragem pode ser tão danosa quanto a covardia, porque coisas ruins podem acontecer não apenas quando se é covarde, mas também quando se perde o medo.

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