segunda-feira, 29 de julho de 2013

Forças Opostas

Permitam-me mais uma vez praticar meu exercício do pensamento da qual denomino de filosofia, que a propósito, não sei identificar ao certo onde se encontra a linha demarcatória entre a filosofia e a loucura, portanto, que julgue cada qual com o senso que possui.

Já dizia Nietzsche: “O principal inimigo do cristianismo é o cristão”, e não é que o cara está com a razão...!? E digo mais, isto vale também para toda e qualquer forma de convicção despótica, que a bem da verdade, é pior que a mentira. Para ser coerente, nesta atualidade em que vivemos e participamos de sua construção, quase tudo que utilizamos é aparente, o que lança paradoxos por todos os lados.

Nesta configuração atual baseada em irregularidades aceitáveis, são fortes as invocações pelos direitos sem deveres, por leis tão imbecis quantos aqueles que as elegem. O valor é não ter valor e tudo mais orbita em torno deste princípio dúbio. Assim, é possível tomar café sem cafeína, adoçar sem açúcar, sentir o perfume sem a verdadeira essência, fazer sexo sem sexo, ser cristão sem cristianismo, aparentar saúde sem ter saúde, ser malhado sem malhar, casar com Ser de mesmo sexo, assassinar o próprio filho por nascer em prol de uma ciência que acha que tudo sabe, e por aí vai ladeira abaixo. Experimentam-se todos os vícios e paixões da alma desprovidos dos seus valores essenciais e das verdadeiras conquistas que qualificam o merecimento. O que era opaco, espesso e hermético, tornou-se transparente, delgado e efêmero, consequentemente, duvidoso por ser difícil de definir e divisar. Como disse M.K.Gandhi: ”O que destrói a humanidade é a Política sem princípios; o Prazer sem compromisso; a Riqueza sem trabalho; a Sabedoria sem caráter; Negócios sem moral; Ciência sem humanidade; Oração sem caridade”. Dentro deste panorama, a miséria humana se faz indubitavelmente nos fatos e nos relacionamentos desprovidos de verdadeiro espírito humano. Tudo se tornou negócios e vantagens pessoais, tudo homogenizou-se na matéria.

Quando se trata de assuntos modernos, é quase certo que este café será servido a nós sem cafeína e provavelmente virá com adoçante, cheirante, saboreante e corante. Vou ser mais extenso nesta alegoria: Tudo, absolutamente tudo há interesses egoístas. Esta é a energia motriz da civilização moderna. A desconfiança não nos é mais um item prescindível, mas sim, essencial. Portanto, devemos andar com cuidado para não toparmos com alguns destes elementos transparentes que estão pulverizados por todos os lados. A propósito, quando a insistência, a facilidade e o apelo forem muitos, devemos aguçar ainda mais a nossa percepção, porque com certeza a vantagem não estará a nosso favor.

O ser humano percebeu através unicamente de seus módicos cinco sentidos que sua liberdade acondicionada no modelo judaico-cristão tendia contra o vislumbre do discurso capitalista, assim, freava sua busca pelos prazeres mundanos estimulados pela sinestesia exacerbada impelida pelo marketing capitalista. Desta forma, o homem pela segunda vez está mostrando para Deus que não precisa dEle, pois, sabe o que é melhor para si mesmo. Digo a segunda vez porque a primeira aconteceu com o primeiro casal no Éden.

Disse certa vez Arnold Toynbee: "Uma vez que uma criatura alcançou como o homem o fez, um intelecto consciente e o livre arbítrio, esta criatura deve procurar e encontrar a Deus ou destruir-se a si mesma". Eis portanto, que segue uma tênue descrição entre a diferença dos seres evoluídos em contra partida aos seres ainda apegados as coisas materiais e elementares. Não que o ser evoluído não dependa delas e que não as queira, mas estas são consideradas apenas utilidades e não propriamente suas vidas, quero dizer, eles as usam responsavelmente e com equilíbrio, sendo que jamais estão dependentes e sujeitos a estas; são livres e jamais escravos, pois, o conhecimento profundo proporciona sabedoria e esta por sua vez mitiga a dor por posicionar a pessoa na porta de entrada do caminho correto. Portanto, perceba nos dois parágrafos abaixo a delicada diferença que arrasta as pessoas para uma grande desigualdade de existência, não atente à estrutura especificamente, mas ao conceito transmitido.

As pessoas elevadas buscam um templo espiritual sempre que desejam a paz com elas mesmas, sempre que desejam a paz com a vida por buscarem entendê-la e aceitá-la como é, sempre que desejam alcançar a sabedoria para mudá-la quando possível e por último, entretanto, não menos importante, sempre que desejam a paz com seus semelhantes.

Já as pessoas consagradas às futilidades dos prazeres imediatos, vão aos seus templos carnais, que também pode ser um espiritual, sempre que desejam sossego para sua mente, sempre que desejam uma trégua momentânea com a vida por não entenderem como ela é, sempre que desejam planejar uma possível maneira de mudá-la, sempre que desejam se refazer dos conflitos com seus desiguais.

A partir do momento que Jesus afirmou que o caminho estreito leva à vida, temos que sentar e avaliar as implicações deste e do outro caminho em nosso contexto. O que acontece, é que muitos não entendem bem o que isso significa. Assim, explicarei aqui. Pois bem, o ser humano tem o péssimo hábito de entulhar coisas. Tudo o que ele acha por aí que deduz ser importante, ele leva para dentro de casa, até mesmo e principalmente coisas supérfluas. Desta forma, o indivíduo vai acumulando pesada carga sobre si mesmo de vícios, manias, costumes e modismo que deformam seu caráter e lhe empapuçam o ego. E como o caminho estreito nos leva ao céu, à evolução, ao nirvana, à plenitude ou qualquer que seja a denominação que você atribua para este estado superlativo do espírito, este, propriamente é íngreme como mostra a escada de Jacó e, portanto, pessoas com cargas pesadas demais, desistem de galgá-lo e então, se vão ao caminho largo, porque ele quando não é plano, pode ser uma ladeira fácil de descer. Assim, conseguem arrastar seus entulhos de estimação junto de si. A propósito, quanto mais entulho a pessoa portar, mais caminhos com declives ela irá procurar trilhar. Muitos nem andam mais de tantas futilidades que portam, mas, rastejam pela vida ladeira abaixo perdidos. Estes estão apegados demais à matéria no sentido de se colocarem como capachos dela. Possuem caráter frouxo, subserviente... Esta ânsia, repele justamente àquilo que buscam e o efeito é o oposto, pois tudo lhes é difícil quando não, é pior por serem escusos.

Qual a saída para esse impasse? Bem, todo homem deveria ter a obrigação consigo mesmo de evoluir por despertar gradativamente sua consciência, assim, não pode permanecer estagnado, pois a estagnação é própria de seres inferiores presos aos instintos e não se ajusta ao ser humano tal propósito, bem, pelo menos não deveria, não é? Saiba que há quatro classificações de indivíduos, a saber, o mineral, o vegetal, o animal e o humano. Cada qual possui atributos que o distingue dos demais. Aqui nada tem de gnose, mas apenas de graduações naturais e pertinentes em que se enquadram a cada um:

Nível Mineral: Ser Elemental. Composto pelo etéreo e matéria;
Nível Vegetal: Ser Interposto. Composto pelo etéreo, matéria e emoção;
Nível Animal: Ser Circunstancial. Composto pelo etéreo, matéria, emoção e intelecto;
Nível Humano. Ser Essencial. Composto pelo etéreo, matéria, emoção, intelecto e espiritualidade.

O Mineral é a base e alicerce de todo o sistema, desta forma,se fundamentam na sensualidade que é a raiz e o fomento da vida. É um Ser inanimado se comparado aos demais. Ele não reage ao sistema. Pode ser impelido para qualquer lado. O Mineral nutre a forma seguinte de vida, o Vegetal. Para ser mais específico, o Vegetal se apropria do mineral por sugá-lo de sua vitalidade.

O Vegetal é a forma mais rudimentar de um ser vivo. Ele também não reage, contudo, apesar de não raciocinarem, eles sentem. Por este motivo buscam sua sobrevivência no elementar, ou seja, sua atenção está em sua manutenção. Não possuem grandes aspirações. O Ser Vegetal, é consumido pela próxima ordem acima, ou seja, o Ser Animal. Melhor colocando o assunto sem rodeios, o Ser Vegetal é engolido pelo Ser Animal.

No nível dos Seres Animais, há uma constante batalha entre si pela sobrevivência, pois, há Seres Animais que são carnívoros e, portanto, ataca seu próximo. Apesar de estes seres estarem no terceiro nível da evolução, são os mais perigosos porque possuem a característica do intelecto, porém, pensam de forma a arquitetar a seu favor, ou seja, são predadores, pois, destroem espontaneamente àquilo de que se utilizam sem pensarem no amanhã.

No nível Humano, a componente espiritualidade proporciona a transcendência da substância. Apesar de terem o conhecimento que lhes confere poder assim como também tem os Seres Animais, estes possuem a sabedoria que lhes confia à liberdade. A matéria lhes é útil apenas quando necessário.

Aqui se percebe o que Jesus quis dizer em seu longo sermão da montanha quando declarou felizes os pobres de espírito, pois, os dois primeiros níveis são assim. Isto justifica possuírem quase que a totalidade da essência etérea. Opostamente, ao nível animal cabe aqui a declaração de Santo Irineu de Lyon: 'É, portanto, melhor e mais salutar ser simples e ignorante e aproximar-se de Deus mediante a caridade que acreditar saber muitas coisas e, depois de muitas aventuras de pensamento, ser blasfemo contra Deus”.

É claro que há pessoas, e não são poucas que estão nos dois níveis primeiros, e precisam avançar ao quarto nível. De posse deste conhecimento, ao chegarem no terceiro e mais cruel nível, podem agora não enveredarem pelo caminho comportamental deste, pois evoluíram e então podem controlar os ânimos e irem se livrando dos pesos sem serventia ao degrau logo acima.

Apesar de tudo, enquanto os três primeiros níveis procuram se fartar da matéria e a perseguem obstinadamente, pois a ela pertencem, este último nível, faz uso da matéria, mas não depende dela. A propósito, a matéria lhes cai à sua frente naturalmente. Não precisam persegui-la porque é a matéria quem lhes persegue e então, extraem somente o necessário, o restante é recusado, pois sabem que a subida continua.

Neste nível último, estes tem a capacidade de saber como, quando, em que e por que neste atual momento, todas as bases milenares de sustentação da civilização estarem em ruínas.

São estes os faróis na negritude desta noite para os que estão lutando para continuarem subindo a estrada estreita rumo ao alvorecer de um novo dia que se anuncia quando tudo ruir...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não saia antes de deixar aqui seu comentário sobre esta postagem...