terça-feira, 11 de agosto de 2020

Lockdown Cristão

  

“O Senhor é o meu pastor; nada me falta. Em verdes prados me faz descansar, e para águas tranquilas me guia em paz. Restaura-me o vigor e conduz-me nos caminhos da justiça por amor do seu Nome.” (Sl 23, 1-3; 28,9).

Esta é uma bela linguagem poética do salmista em louvor a Deus pelos cuidados dispensados aos seus e de submissa entrega tal como da ovelha ao seu pastor. Por outro lado, é uma das mais belas demonstrações do zelo e dos cuidados de Deus ao seu povo de toda a Escritura, sendo aquele que alimenta e apascenta seu rebanho e o protege dos predadores e dos inimigos tal como confirmado por Jesus: “Eu Sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é o pastor a quem as ovelhas pertencem, vê a aproximação do lobo, abandona as ovelhas e foge. Então, o lobo as apanha e dispersa o rebanho. O mercenário foge, porque é um mercenário e não tem zelo pelas ovelhas. Eu Sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e sou conhecido por elas; assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e entrego minha vida pelas ovelhas.” (Jo 10,11-15).

Sendo esta a maneira de Deus interagir com os Seus escolhidos, quando Jesus estava na fundação de Sua Igreja, a Pedro foi solicitado três enfáticas vezes que apascentasse suas ovelhas (Jo 21,15-16). Atentos a este chamado, por dois mil anos de história, muitos verdadeiros pastores bem conduziram o rebanho de seu Senhor nos caminhos da salvação nas pessoas de sacerdotes, religiosos, santos, mártires, doutores, apóstolos, ministros, evangelizadores, leigos e todos os demais que guiavam as ovelhas ao verdadeiro aprisco, dando a todos a certeza da graça e da segurança do Espírito Santo de Deus a frente de Sua Igreja (Is 30, 20-21).

Por outro lado, é sabido que muitos maus pastores, falsos profetas e mercenários travestidos em ovelhas se têm levantado de dentro da Igreja para conduzir rebanhos inteiros a perdição, desde o topo até sua base, dando de beber a elas água contaminada, dando-lhes de comer pão embolorado, proferindo em seus ouvidos estultos palavras dúbias e hesitantes, por vezes, eles próprios esfolam e devoram o rebanho, quando não, vendem as ovelhas aos inimigos na bacia das almas, sendo esta a última novidade da atualidade, e é tudo o que faltava para se completar as chagas antes do calvário.

O que se percebe na Igreja nestes últimos tempos é o abandono massivo, desde sacerdotes a leigos, de suas posições de noiva adornada, pura e imaculada de nosso Senhor para debandarem-se a vulgar vendilhona de si para cafajestes políticos, transformando-os em seus amantes e mantenedores de vida fácil e concupiscente e arrastando milhões de relapsos com as coisas sagradas após eles aos abismos da qual nem os demônios querem ir (Lc 8,30-31) (Ap 17, 1-2). Em muitos destes, o que notabiliza não é o compromisso com a verdade, mas a aceitação resignada dos falsos valores impostos por medo de serem acusados de fundamentalistas e de se verem despojados de seu 'emprego estável e fácil'. Transcrevo aqui as palavras de Bento XVI a respeito destes: "Falar para encontrar aplausos, falar orientando-se segundo o que os homens querem ouvir, falar em obediência à ditadura das opiniões comuns, é considerado uma espécie de prostituição da palavra e da alma. a 'castidade' à qual o apóstolo Pedro faz alusão (1Pe 1,22) não é submeter-se a estes protótipos, não é procurar aplausos, mas procurar a obediência à verdade"1.

Quando se era lido a parábola da semeadura pelos Céus da boa semente e do nocivo joio pelo inimigo na calada da noite, ninguém fazia ideia da real quantidade de má semente que o oponente havia espalhado na plantação do Senhor, e após tanto tempo observando tal efeito, ainda não se consegue habituar-se com a batelada imensurável dos condenados ao fogo eterno (Jd 1,7; 22-23). Nas plantações literais, o joio sufoca o trigo até a morte, e é justamente isso que assistimos desolados acontecer nesses tempos apocalípticos. Deveras, o inimigo aparentemente está sobrepujando a Igreja, entretanto, não é isso que acontece, é como São João relatou sob inspiração: “Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem nos abandonado revela que nenhum deles era realmente dos nossos” (1Jo 2, 19). Nessa renúncia do bem, do bom, do belo e do sagrado, nota-se que além de se referir aos que se servem da porta afora, também tem conotação aqueles que aderem entorpecidos pela fumaça de Satanás as heresias daqueles homens que deveriam zelar pelo sagrado, mas que as espalham como pragas de gafanhotos pelo mundo afora (Ap 9, 1-3). Neles se cumpre a profecia de Isaías: “Ainda que continuamente estejais ouvindo, jamais entendereis; mesmo que sempre estejais vendo, nunca percebereis. Posto que o coração deste povo está petrificado; de má vontade escutaram com seus ouvidos, e fecharam os seus olhos; para evitar que enxerguem com os olhos, ouçam com os ouvidos, compreendam com o coração, convertam-se, e sejam por mim curados” (Mt 13, 14-15; Is 6,9-10).

Tendo a correta visão, não há desespero como se percebe por aí, mas é compreendido que nenhum dos que estiverem inscritos no livro da vida de Deus se perderá pelas estradas poeirentas deste velho mundo, pois, o próprio Senhor irá buscar o perdido que persiste em balir, que persiste em pedir, que persiste em bater que lhe pertence (Mt 7, 7-11; Lc 15, 4-7; Is 40, 10-11; Lc 21,28). Entretanto, apesar de haver uma grande operação de resgate disponível, poucos a querem usá-la como bem advertiu Jesus e podemos ver isso com nossos próprios olhos em que seremos chamados para testemunhas oculares aos desinformados no novo mundo: “...muitos são chamados, mas poucos, escolhidos!” (Mt 22, 1-14).

Poucos, bem poucos adentrarão as portas estreitas, tão poucos que será outra admiração em contrapartida ao número do joio, será um acontecimento inacreditável, e isso não é devaneio, não é história da carochinha e nem uma dissimulação ‘branca’ para conversão, mas se trata de uma realidade que pegará a maioria de surpresa, o conto de fadas de um Deus apenas misericórdia e desequilibrado em relação a justiça será pavorosa naquele dia. Advertiu Jesus: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de violência se apoderam dele” (Mt 11, 12). Pois então, apenas os despertos com sua salvação e que lutam acirradamente por ela, a conseguirão. Nenhum dos descuidados com o sagrado, bem como, os distraídos com os muitos entretenimentos, prazeres da vida e os afazeres corriqueiros a encontrarão. Para isso temos diversos exemplos da qual é citado alguns dentre outros:

- Isaías 13,12: “(No dia da ira) farei com que os homens sejam mais escassos do que o ouro puro, mais raros do que o ouro de Ofir!”

- Salmos 91, 7-8: “Ainda que caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita; tu não serás atingido. Somente teus olhos perceberão e contemplarão a retribuição destinada aos ímpios.”

- Rumo ao novo mundo, apenas oito sobreviveram a ira de Deus nos dias de Noé, muitos foram chamados e nenhum atendeu. Gênesis 7, 23: “Assim desapareceram todos os seres que se moviam na superfície do solo: não sobreviveu um só homem, assim como todos os animais grandes, os animais pequenos que rastejam pelo chão e as aves do céu. Somente sobreviveram Noé e os que com ele estavam na arca.”

- Milhões dos que saíram do Egito para a Terra prometida apenas dois conseguiram adentrarem nela, a saber, Josué e Calebe conforme Números 32, 11-13: “Estes homens que saíram do Egito, da idade de vinte anos para cima, jamais verão a terra que prometi, com juramento, a Abraão, a Isaque e a Jacó, porquanto não me seguiram de modo íntegro, com exceção de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué, filho de Num, que obedeceram fielmente às ordens do SENHOR com inteireza de coração!’ Então a ira do SENHOR se acendeu contra Israel e os fez andar errantes pelo deserto durante quarenta anos, até que desapareceu por completo aquela geração que fez o que desagradou a Yahweh.”

- Milhões dos que foram ao cativeiro em Babilônia, poucos conseguiram retornar a sua terra natal. Deus fez aquela geração desaparecer por deixá-los 70 anos no exílio. Jeremias 29, 10: “Assim diz Yahweh: ‘Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, Eu cumprirei a minha promessa a vosso favor, de trazer-vos de volta para este exato lugar.”

Assim a história testifica para todos, especialmente à Igreja do Senhor que de Deus não se zomba e nem se brinca, pois, aquele que semeia visando a carne, ceifará a corrupção como paga e aquele que semeia visando o espírito, colherá a vida eterna (Gl, 6, 7-8). Hoje, ainda estamos vivendo o dia da misericórdia de Deus como anunciado por Cristo a todos (Lc 4, 15-21; Is 61,1-2), mas as portas estão se fechando para o dia da ira iniciar, como mostra a sequência não lida deste mesmo anúncio (Is 61,2). Melhor advertindo, tem-se que já se fecharam as portas, pois a apostasia tomou conta de tudo, a verdade se perdeu como agulha no palheiro, quem conseguiu entrar entrou, quem não entrou, obviamente está de fora e dificilmente conseguirá entrar, as portas foram cerradas no sentido de que já não existe mais Igreja comunitária e receptiva, os sacerdotes saíram em debandada aos seus aposentos mais recônditos fugindo acovardados por um vírus ante o seu dever a Deus, fecharam-se os Templos, acabaram-se os sacramentos, especialmente o da comunhão com o Senhor e da confissão, os pecados se acumulam sobre cada cabeça, acabou-se a catequese, rarearam-se os pregadores com o ensino da verdade, agora é proibido pregar a salvação porque Cristo crucificado não mais venceu o mundo, mas foi um fracassado causando escândalo, e tudo se foi, acabou! Nesta sopa progressista de seitas e ideologias, até o sacratíssimo sangue de Jesus foi blasfemado como pagão.

Mas isso não se trata de apenas obra da maldade humana, pois já testifica a sagrada escritura que Deus tem o controle de tudo (Pv 21,18; Ez 38,4), de modo que já estava prometido que haveria um ‘lockdown’ espiritual como punição: “Eis que estão chegando os dias, previne o SENHOR Adonai, em que mandarei a fome sobre toda esta terra; não simplesmente a fome por comida, nem a sede de água; mas a fome e a sede de ouvir e se alimentar da Palavra do SENHOR. Os homens vaguearão de um mar a outro, do Norte ao Oriente, buscando a Palavra de Yahweh, mas não lhes será possível encontrar. (Am 8, 11-12)”. E o que resta agora para todos, é esse pano de fundo retalhado por uma religião artificial meramente humana e light, à la carte, bem ao gosto do público pagante, sem estrutura definida, mas relativa porque esvaziou-se de sua moral de cima.

Mais uma vez a humanidade se encontra em uma sinuca de bico, sempre foi deste modo, o mal infecciona tudo quando o homem aclama sua liberdade de Deus e o nega para obter independência (Jo 14,15). Isso ocorreu no princípio com Adão que lançou a humanidade na desgraça, e por toda a história subsequente que dispensa exemplos já que são intrínsecos de nossos conhecimentos empíricos. Encontrará o Senhor fé na Terra no seu retorno (Lc 18,8)? Não na abundância desejada, mas será mais rara que o puro ouro de Ofir (Is 13,12). As portas realmente já se fecharam e o livro da história deste velho mundo finalmente chegou em seu epílogo. Ai dos hodiernos Judas, pois 'o Filho do homem vai, como de fato está escrito a respeito dele. Mas ai daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe seria jamais haver nascido' (Mt 26,24). 

Ahhh, o último a sair da Grande Babilônia, não precisa apagar as luzes, pois eis as trevas...

1- Cfr. Bento XVI, Homília durante a missa com os membros da Comissão Teológica Internacional, 06-10-2006.

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