domingo, 5 de julho de 2015

Sentido na Loucura

Quem acredita que um indivíduo qualquer esta dissociado da sociedade em que vive, está muito equivocado. A sociedade é o que é por cooperação de todos, pois estamos inseridos em seu contexto e contribuímos com ela, seja para seu bem ou para suas loucuras. 

Mas a verdade é que todos procuramos um fator em comum que possa ser esteio de uma coexistência pacífica e segura. Porém, acredito seriamente que enquanto não aprendermos a convencer nossas emoções a lidar com suas ânsias que são as fomentadoras do egotismo que por sua vez desencadeiam os ódios e as violências como um vírus descontrolado, jamais iremos estabelecer esta tão desejada convivência pacifica e segura como a razão tanto implora. Muros continuarão a crescer em números e altura enquanto paradoxalmente todos almejam a concórdia.

Muitos estão embriagados pelo turbilhão de emoções negativas provocadas pelo caos social. Seus atos já não são harmônicos e racionais. Apesar de colocarmos estas emoções para fora em forma de explosão verbal e ações diversas, na verdade esta não é a resposta que todos procuramos. Estas são apenas medidas paliativas que não trazem satisfação. Martin Luther King disse certa vez que temos duas escolhas: "Viver juntos como irmãos ou perecer juntos como tolos". E optamos pela tolice.

Hoje, mais do que nunca, há apenas dois tipos de indivíduos, exatamente assim, polarizados: De um lado, aqueles apáticos que buscam apenas seus desejos, interesses e direitos sem deveres. Do outro lado deste cabo de guerra, aqueles que buscam sua evolução e crescimento para seu bem e bem comum.

Vejo que não há mais volta à uma atmosfera social saudável, porque o primeiro tipo de indivíduo grassou em todas as entranhas sociais. Digo isso, porque mesmo em meio de uma família estruturada, não raro há um palerma penetrado. Isto não é ser negativista, mas realista. A propósito, ser negativista é limitar sua inteligência e campo de ação, opostamente, ser positivista é viver em um mundo de fantasias e devaneios. Assim, devemos trilhar o caminho do equilíbrio, o caminho da realidade. Temos que trabalhar sempre pelo melhor nos preparando para o pior. Isto é como construir um edifício utilizando EPIs, e esta é a forma correta! Isto é a realidade... não devemos ter bloqueios diante dos obstáculos ou opostamente nos atirarmos de peito aberto a uma situação de risco.  

Sendo como é este estado de coisas, todos nós que nos preocupamos seriamente com o nosso futuro estaremos fadados à loucura ou nos tornaremos semelhantemente apáticos como esta maioria? Como já disse, nem uma e nem outra opção, o nosso caminho é a realidade avante, sempre avante, não vamos pela direita e nem pela esquerda por mais bonito que possa parecer aqueles caminhos. Não... não estou cambaleando também, entorpecido pelos mesmos desejos miseravelmente baixos desta sociedade falida.

Para que haja uma pérola, é necessário o irritante. O irritante estimula a ostra a produzir secreções que envolverão o agente irritante, isolando-o de seu contato e assim, o que era bruto e sem valor, torna-se-a suave, precioso, belo e desejável. Não devemos partir para o ostracismo e nem para o irritante, devemos extrair do problema algo de valor, porque quando Deus nos dá um trabalho, Ele também fornece o manual de orientação. É neste manual que devemos olhar e ele em seu prefácio diz o seguinte: Todos estamos matriculados desde nosso nascimento na universidade da vida e nela nos é ensinado a equação do desenvolvimento humano, de um lado o problema e do outro a solução em perfeito equilíbrio ao problema apresentado. A mitigação se encontra no próprio problema, e para encontrá-la, precisamos equalizar a questão.

Assim, sem as dificuldades não haveria crescimento e nem desenvolvimento. Fato é que na vida a dor é inevitável, mas a intensidade do sofrimento ou sua total ausência é uma escolha que fazemos que depende apenas de nosso entendimento sobre os mecanismos da vida e do espírito humano, e isto meu caro, é uma experiência pessoal intransferível. Não se nasce com ela em memória genética, não se ensina ela e também não a compreendemos com nossa mente lógica. Como adquiri-la então? Bem, nós apenas descobrimos essa libertação pela força interior por meio do treinamento da nossa paciência, da tolerância, da permissão e do perdão enfrentando os pequenos e grandes obstáculos que se levantam todos os dias. Não há outro caminho; como já disse, o caminho do equilíbrio é avante, sempre avante. Vejam bem, estou utilizando o verbo ou a ação 'enfrentar' e não 'contornar'. Líquidos contornam, sólidos enfrentam.  

Quando seguimos o fluxo do mundo com seus trejeitos, acabamos por levar em nossa caminhada muitos apetrechos que pouco valor agregam, além de tornar a caminhada mais exaustiva. Quanto mais peso levamos, mais ao chão olharemos e os atalhos serão tentadores. Existiu um homem que saiu mundo afora em busca de iluminação, foi ao Tibet atrás de um Buda que pudesse transmitir a ele iluminação libertadora. Se muniu de muitas coisas para enfrentar a difícil viagem por vales e montanhas. Assim feito, saiu em sua busca. Os dias se foram passando e este homem percebeu que muitos utensílios não eram necessários, apenas impunham peso à sua caminhada. Sem pensar no prejuízo financeiro, foi se livrando de cada um. A medida que ia aliviando sua carga desnecessária, apesar do cansaço, conseguia continuar sua caminhada. Percebia que muitos não conseguiam prosseguir, estavam muito cansados e pesados demais. Quanto menos peso levava consigo, mais percebia que de pouco necessitava para aquele propósito específico. Após ter quase se despido de todas as munições adquiridas, encontrou finalmente um Buda, reuniu então todas as suas forças e correu até ele e exausto indagou-lhe:
- Mestre, qual o princípio da vida?
- O drama do ser não são seus fardos, mas sua despreocupada ociosidade. Opostamente, o que derruba um homem não são os fardos, mas seu insustentável apego a estes.  

Lembro agora das palavras de Jesus em Lucas 10,41 quando recomendou a Marta: Estás ansiosa e afadigada com muitas coisas quando uma só é necessária...

Bem vindo ao meu delírio de querer ser sensato em um mundo de doidos.


"Todos tem sua loucura, mas só consideramos sensato aquele cuja loucura coincide com o da maioria" Miguel de Unamuno.

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