sábado, 23 de novembro de 2013

Meu Amigo Sapo

Lembro-me bem de minha infância, quando, em todas as férias escolares e quase todos os finais de semana, íamos a família inteira visitar minhas avós materna e paterna que moravam em uma mesma cidadezinha distante uns 100 km de onde eu residia na época. Apesar de muito pequena, aquela era a cidade mais simpática que conheci da qual até os dias de hoje, após passado todos esses anos, ainda continua viva em minha mente sua beleza daquela época, sua hospitalidade e sua gente que ali moravam, entretanto, não mais voltam aqueles tempos ímpares.

Nesta cidade passa ao lado um rio de médio para pequeno porte onde eu, meus primos e amigos passávamos os dias nos divertindo em sua correnteza, pescando e explorando suas margens. Apesar de todas as horas de bom entretenimento que eu tinha ali, este rio era uma fonte inesgotável de sapos que atendia a demanda da cidade inteira com sobra (risos). Era natural ao anoitecer os sapos fazerem parte da paisagem da cidade, tanto era assim, que os tratávamos como um animal doméstico qualquer que iam e vinham pelas ruas.

Após um dia cheio de atividades, eu sempre me recolhia para meu tranquilo quarto nos fundos da casa da qual a janela ficava defronte ao enorme quintal com mangueiras, bananeiras, uma pereira, coqueiros e muitas outras espécies de plantas e flores. Contudo, todas as noites vinha um sapo para perto da janela de meu quarto e ficava coaxando com uma bela melodia acompanhada ritmicamente pelos sons de muitos insetos que agradava aos meus ouvidos e me faziam adormecer serenamente. Nunca me passou pela cabeça enxotar aquela criaturinha de seu local escolhido para privilégio meu e assim, local conquistado sem dificuldades.

Eu amava aquele sapo não por sua beleza, não por sua graciosidade, não pelos favores que me fazia, não pelos lucros que me proporcionava, não pelos diplomas que possuía ou por sua distinta respeitabilidade ou autoridade em que se apresentava na janela. Ele nada devia a mim e eu nada devia a ele, simplesmente eu o amava de verdade... o amava com aquele amor de criança inocente que transcende qualquer interesse egoísta, porque conseguia extrair o belo não manifesto aonde a sua fonte privava os outros da descoberta daquela boa alma.

Esta experiência me foi profundamente marcante, ainda a trago até os dias de hoje, pois, apesar de todas as dificuldades de um adulto, mesmo assim procuro exercer aquele amor ingênuo de criança que em tudo vê o bom, praticado infindáveis noites com meu amigo sapo, mas confesso que muitas vezes me é tão difícil manter a candura na mesma proporção do tamanho dos sapos humanos que tenho que engolir com suas horríveis 'melodias' a bem da paz de sono das minhas noites sem a companhia daquele inocente amigo sapo de minha infância.

Meu amigo sapo por onde você anda...?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não saia antes de deixar aqui seu comentário sobre esta postagem...