sábado, 2 de maio de 2015

Para Tornar-se Completo

Quem conhece a própria ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a própria ignorância vive na mais profunda ilusão (Lao Tsé).

De acordo com a frase milenar acima, por mais estranho que pareça, nossas imperfeições podem nos fazer conceitualmente mais perfeitos se tivermos a força moral para dominá-las. Contudo, por mais óbvio que seja, isso só é possível quando reconhecemos que elas habitam em nós e enumeramos a cada uma. Mas quão difícil isto é, pois somos ensinados desde pequenos a negar e suprimir todas aquelas porções em nós que não aceitamos e é claro que fazemos exatamente assim por questões óbvias, pois, o ego raramente anda sem seus melhores trajes. Isto é fato quando percebemos todo o aparato de nossos disfarces ao nos relacionar com os outros, de vestuários, adornos e máscaras. Para ser mais claro, photoshopamos nossa personalidade com tantos filtros que alguns caem no ridículo.


Entretanto, a vida seria melhor e menos dolorosa se aceitássemos que não somos tão perfeitos quanto gostaríamos que fossemos. A propósito, a mania de perfeccionismo, nada mais é do que uma maneira de esconder nossas falhas, ou melhor colocando, nossas vulnerabilidades. Assim, o fato de termos algum dom, não nos deveria dar permissão para um julgamento complacente demais conosco mesmo e por outro lado, duro demais com os outros, até porque com toda certeza, temos muitas deficiências em outras áreas. Tal atitude é a mais tola que poderíamos ter para conosco, pois, o problema apenas é agravado. Aquilo que a princípio pode parecer ser bom e reconfortante por jogar a sujeira para debaixo do tapete, em seu resultado posterior, trará padecimentos.

O caminho certo é usarmos de apenas um peso e uma medida, ou seja, a mesma medida que pesamos para os outros, devemos utilizar para nós também, assim, colocando em evidências nossas imperfeições, verdadeiramente conseguiremos ser mais benévolos conosco, e quando estamos em paz conosco, automaticamente estaremos também com os demais sem qualquer esforço. Esse tipo de atitude evita a impermeabilização de nosso ser, e desta forma, nos tornamos menos rígidos e engessados para com o mundo, além de permitir o livre fluxo de nossas melhores qualidades e seu reconhecimento pelos demais. 

Aprenda com a natureza o seguinte ponto vital, um material de grande dureza não significa que ele seja resistente, ambas palavras são erroneamente vistas como sinônimos, tolo engano. Quando golpeamos uma espuma, ela por ter propriedades elásticas, ou seja, por ser flexível, retorna à sua posição original sem maiores consequências. Se golpearmos o ferro, o aço fundido, o concreto, o vidro ou mesmo o mais rígido de todos, o diamante, estes, por não possuírem propriedades elásticas serão marcados se não forem esmiuçados. Portanto, as marcas da vida são proporcionais a rigidez imposta para si mesmo. Veja o exemplo da grama e da árvore, responda você mesmo, quem em uma tempestade passa pela tormenta sem danos, o rígido ou o flexível...?

Portanto, admita para consigo que as suas imperfeições fazem naturalmente parte da vida e portanto, não deveriam ser acobertadas, mas sim, dominadas, e nisto há uma grande diferença. Note que enquanto a primeira é um selvagem trancafiado da qual pode de um momento para o outro arrebentar suas cadeias, a segunda é o mesmo selvagem sociabilizado, onde as vezes esse selvagem passará dos limites, mas logo perceberá seu erro e irá temperar seus modos novamente. A primeira opção é a mais fácil, pega-se o selvagem e o joga para dentro do cárcere, contudo, o trabalho de apaziguamento será eterno e cansativo. A segunda opção é mais trabalhosa, porém mais inteligente, apesar de demandar tempo para a sua educação, o trabalho será apenas uma vez.

Assim, um dos motivos  pelos quais é importante aceitar nossas piores facetas é o fato disto nos permitir ser de forma equilibrada, compreensíveis e complacentes conosco, com os demais e com o mundo. A medida que caminhamos dentro do processo de evolução da alma, vamos gradativamente melhorando nosso juízo por meio de pensamentos qualitativos. Por isso, abra-se para o seu verdadeiro eu em vez de enterrar suas piores qualidades e com elas se vão inevitavelmente também as suas melhores. A propósito, será que muitas de suas mais importantes qualidades já não estão sepultadas...?

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